''Os professores estão fugindo não por covardia, mas em busca da própria dignidade'', diz artigo sobre a queda no número de formandos em cursos que preparam docentes
Não constitui surpresa saber que caiu o número de formandos em cursos que preparam docentes. O desinteresse dos adolescentes pelo magistério não se revelou repentinamente. Reflete processo que se corporifica há muito tempo no exercício do magistério, aliado à decadência do ensino público monitorado por políticas públicas equivocadas.
Como professora de Escola pública nas décadas de 70 a 90, fui testemunha da aplicação de leis, regimentos e normas pretensamente democráticas, inovadoras e revolucionárias, impostas ao professor como panacéias solucionadoras de todos os problemas educacionais. A Escola transformou- se em entidade predominantemente assistencialista e ao mestre era atribuída toda a responsabilidade pelo insucesso do aluno - a reprovação, se ultrapassada determinada porcentagem, era sinônimo de incompetência didática.
O professor foi perdendo sua autonomia e, sem ela, sente-se desprestigiado, desmotivado e desestimulado e seu aluno percebe esse desencanto. Para esse processo de desconstrução, vários outros fatores contribuíram. Entre eles, ainda da perspectiva do docente, destaco o tratamento dispensado aos cursos de formação de professores da Educação Básica.
Aos docentes que atuavam nesses cursos recomendava-se, não oficialmente, agir com complacência e não exigir muito do aluno na atividade didática, porque o perfil da clientela, segundo orientadores e diretores de Escola, era formado por adolescentes menos favorecidos economicamente, com poucos subsídios culturais e que, muitas vezes, ignoravam o alcance de sua vocação.
Não seria essa uma forte razão para se elevar o nível desses jovens? O que pensar de cursos de graduação em Pedagogia que serviram durante algum tempo de meio de aquisição de maior remuneração para docentes e acesso à classificação privilegiada na atribuição de aulas? Via e vejo nessa atitude facilitadora e desvirtuada uma contradição que só poderia resultar nesse quadro preocupante. Há soluções e elas já foram apontadas por pesquisadores. Falta aplicá-las. Os professores estão fugindo não por covardia, mas em busca da própria dignidade.
Fonte: Jornal de Brasília (DF)
Não constitui surpresa saber que caiu o número de formandos em cursos que preparam docentes. O desinteresse dos adolescentes pelo magistério não se revelou repentinamente. Reflete processo que se corporifica há muito tempo no exercício do magistério, aliado à decadência do ensino público monitorado por políticas públicas equivocadas.
Como professora de Escola pública nas décadas de 70 a 90, fui testemunha da aplicação de leis, regimentos e normas pretensamente democráticas, inovadoras e revolucionárias, impostas ao professor como panacéias solucionadoras de todos os problemas educacionais. A Escola transformou- se em entidade predominantemente assistencialista e ao mestre era atribuída toda a responsabilidade pelo insucesso do aluno - a reprovação, se ultrapassada determinada porcentagem, era sinônimo de incompetência didática.
O professor foi perdendo sua autonomia e, sem ela, sente-se desprestigiado, desmotivado e desestimulado e seu aluno percebe esse desencanto. Para esse processo de desconstrução, vários outros fatores contribuíram. Entre eles, ainda da perspectiva do docente, destaco o tratamento dispensado aos cursos de formação de professores da Educação Básica.
Aos docentes que atuavam nesses cursos recomendava-se, não oficialmente, agir com complacência e não exigir muito do aluno na atividade didática, porque o perfil da clientela, segundo orientadores e diretores de Escola, era formado por adolescentes menos favorecidos economicamente, com poucos subsídios culturais e que, muitas vezes, ignoravam o alcance de sua vocação.
Não seria essa uma forte razão para se elevar o nível desses jovens? O que pensar de cursos de graduação em Pedagogia que serviram durante algum tempo de meio de aquisição de maior remuneração para docentes e acesso à classificação privilegiada na atribuição de aulas? Via e vejo nessa atitude facilitadora e desvirtuada uma contradição que só poderia resultar nesse quadro preocupante. Há soluções e elas já foram apontadas por pesquisadores. Falta aplicá-las. Os professores estão fugindo não por covardia, mas em busca da própria dignidade.
Fonte: Jornal de Brasília (DF)
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