Pular para o conteúdo principal

IDHM de educação: copo meio cheio, meio vazio

.. Enviado por Demétrio Weber - O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) divulgado na última segunda-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) mostra que a educação brasileira deu um salto nas últimas duas décadas, graças a um maior acesso de crianças e jovens às escolas. Dos três indicadores usados no IDHM — renda, saúde e educação — a escolaridade foi o que mais avançou. O IDHM específico de educação subiu 128%, ante um crescimento de 47,8% do índice geral, entre 1991 e 2010. O que aconteceu com o indicador de educação, porém, pode dar margem a interpretações distintas e aparentemente contraditórias. De um lado, é inegável que a educação puxou o IDHM nacional, respondendo por 71% do crescimento nas duas décadas, segundo estudo que chegou às mãos do ministro Aloizio Mercadante. O indicador de longevidade contribuiu com 18% e a renda per capita, 11%. Ocorre que a educação foi também o indicador com pontuação mais baixa: 0,637, na escala até 1, ante 0,739 da renda e 0,816 da expectativa de vida. Logo, por mais que tenha melhorado, o indicador de educação impediu um maior crescimento do IDHM nacional. Por mais contraditório que possa parecer. Ao analisar dados de fluxo escolar, o relatório do Pnud mostra que a proporção de brasileiros que conseguiram concluir a escola com nenhum ou pouco atraso mais do que dobrou. Mas, se é verdade que o acesso melhorou, a qualidade ainda deixa a desejar. E muito. Um cruzamento de dados que fiz com a colega Cristiane Bonfanti revela que 99% dos municípios com IDHM de educação alto ou muito alto ficaram abaixo das notas consideradas satisfatórias, em língua portuguesa e matemática, na Prova Brasil de 2011. O cruzamento analisou o desempenho dos alunos de escolas públicas do 9.º ano do ensino fundamental, tendo como referência padrões de qualidade definidos pelo movimento Todos pela Educação, uma organização não-governamental que reúne empresários e educadores. Dos 363 municípios com IDHM de Educação alto ou muito alto, apenas dois conseguiram atingir as notas recomendadas pelo Todos pela Educação, ainda assim numa única disciplina. Em Santa Catarina, a cidade de Piratuba registrou 281,33 pontos na Prova Brasil de matemática, superando a marca de 275 pontos definida como padrão mínimo de conhecimento de estudantes prestes a completar o ensino fundamental. Já o município gaúcho de São José do Inhacorá fez o mesmo no exame de matemática, atingindo 306,69 pontos — acima dos 300 estipulados pelo Todos pela Educação. Até mesmo os cinco municípios com maior IDHM de Educação, classificados na faixa de desenvolvimento humano muito alto, ficaram abaixo do patamar de desempenho considerado satisfatório na Prova Brasil, dentro dos critérios estipulados pelo Todos pela Educação. É o caso de Águas de São Pedro, em São Paulo, que lidera o ranking do IDHM educacional, com 0,825, na escala até 1. Os alunos de Águas de São Pedro obtiveram 271,71 pontos na Prova Brasil de português e 283,55 na de matemática. Abaixo, portanto, das marcas apropriadas. O mesmo ocorre com São Caetano do Sul, a líder do ranking do IDHM geral e segunda colocada no IDHM de Educação. Pelos critérios do Todos pela Educação, a qualidade do ensino na cidade paulista também deixa a desejar. Para a diretora-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, indicadores de qualidade fazem falta ao IDHM na área de educação. O raciocínio é simples: frequentar a escola e concluí-la na idade adequada são avanços importantes. Mas não bastam. Afinal, para além das estatísticas e formalidades, como ter um certificado de ensino fundamental ou médio, o que vale mesmo é o aprendizado. — É muito difícil falar em desenvolvimento humano sem falar em qualidade da educação. O desenvolvimento humano deveria considerar os alunos que estão na escola e aprendendo. As duas variáveis deveriam estar juntas. A gente não quer voltar à situação em que só uma minoria estava na escola, e aprendia. Agora a maioria está e não aprende. A gente tem que chegar ao ponto em que maioria esteja na escola e aprenda. Isso é desenvolvimento humano — diz Priscila. O Ministério da Educação (MEC) não reconhece os parâmetros de qualidade definidos pelo Todos pela Educação. — A meta do Todos não é a do Estado brasileiro. Não leva em conta os parâmetros do Ideb. O padrão da educação brasileira está indo muito bem, estamos evoluindo, atingindo as metas do Ideb, principalmente nos anos iniciais do ensino fundamental — diz o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Luiz Claudio Costa. O Inep é o órgão do ministério responsável pela Prova Brasil e pelo Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que traçou metas de qualidade até 2021. Aplicada a cada dois anos, a Prova Brasil avalia conhecimentos de matemática e língua portuguesa. Em breve, passará a incluir questões de ciências.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sinproesemma contrata banca de advogados que está envolvida em polêmica no Ceará

Precatórios do Fundef: entenda a polêmica do pagamento de honorários a advogados Professores que estiveram na ativa na rede pública estadual do Ceará entre agosto de 1998 e dezembro de 2006 têm direito a receber os valores referentes aos precatórios do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) . Nesta terça-feira, ocorreu o pagamento da segunda parcela . Desde que o pagamento teve início , em fevereiro de 2023, uma questão sobre o tema gera controvérsias: o pagamento dos honorários advocatícios à banca de advogados contratada pelo Sindicato Apeoc, que representa os professores. O precatório é resultado de disputas judiciais movidas pelo Estado do Ceará para corrigir os cálculos e complementar os repasses federais pelo Fundef à educação estadual. Como 60% do valor do fundo tinha de ser destinado à remuneração dos profissionais do magistério, quem estava em atividade é beneficiado. São 50.248 professores que re...

Carta aos profissionais da educação

UMA GREVE ATÍPICA, UMA LIÇÃO HISTÓRICA: LUTAMOS E ESTAMOS ORGULHOSOS! Ousadia, resistência, apreensão e persistência são sentimentos e momentos que marcaram os dias de greve dos trabalhadores em educação do estado do Maranhão. Foi, sem dúvida, um grande aprendizado, porque foi uma grande luta. Aprendemos nesse movimento quem são os verdadeiros aliados da classe trabalhadora, aprendemos também quem são os seus grandes inimigos. Fomos atacados por todos os lados no front dessa batalha em defesa de nossos direitos e de uma educação pública e de qualidade. Tal como o príncipe de Maquiavel a governadora Roseana Sarney tentava mostrar que “os fins justificam os meios”, para isso impunha o terror nas escolas, ameaçava cortar o ponto dos grevistas, até de exoneração fomos ameaçados. É verdade que em alguns momentos sentimo-nos pequenos ao ver um governo oligarca e sedento de poder abocanhando a direção do nosso sindicato, que nada faz pela sua categoria, e de entidades estudantis, q...

Conheça a Carta do desespero.

MRP(OU MOSEP,...) E A GREVE ELEITORAL Por Odair José* Falar dos problemas internos de determinada categoria é quase sempre muito ruim para os seus membros, por isso a economia nas palavras dos diretores do SINPROESEMMA em certos momentos do desenvolvimento das lutas dos professores do nosso Estado. Mas, tem momentos que não é permitido ficar calado. Nos últimos dias, temos visto um grupo de professores “dissidentes” comandando o que seria um levante contra o acordo feito pelo sindicato com o governo, referendado pela maioria da categoria, pelo qual a categoria tem um reajuste momentâneo que, adicionado ao feito no início do ano, ainda pelo Governo anterior, soma 15,97%. Vendo apenas o momento, a fotografia, um observador desavisado poderia pensar que estamos tratando somente de um erro tático desses trabalhadores, continuar tencionando, inclusive através da greve, para tentar retirar do governo um pouco mais de 3% - uma vez que o pleito inicial foi 19,2% - colocand...