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Quanto custa um vereador para um partido “revolucionário”?

Quanto custa um vereador para um partido “revolucionário”?

Tentando eleger parlamentar, PSTU coliga com o PC do B.

"Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. Karl Marx.



Maio e Junho de 2012. Farsa e Tragédia no interior da cortina de fumaça do Centralismo Democrático sem democracia e respeito às bases, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU), aprovou a realização de uma aliança eleitoreira na cidade de Belém (PA), sob a liderança do ex-prefeito petista Edmilson Rodrigues (PSOL) incluindo o PCB e o PC do B, que emplacou o vice de tal aliança e que, segundo o PSTU, estava consoante às determinações centrais do partido no que diz respeito à preparação de uma política prioritária e urgente para as eleições municipais de 2012, apresentando como objetivo primordial, a conquista de uma cadeira na Câmara de Vereadores de Belém, através da militância sindical do setor da construção civil na cidade, hegemonizada pelo partido e representada pelo dirigente sindical e partidário, Cléber Rabelo.
Essa estranha aliança mexeu com uma significativa parcela dos membros do PSTU por todo o país, principalmente a seção regional do Maranhão, na medida em que formalizou um recurso contra a decisão antidemocrática e equivocada da direção nacional do PSTU no dia 11 de julho. Apesar de todos os argumentos, o “centralismo democrático” operou no sentido de cristalizar uma posição unilateral, negando a revogação pretendida pelos militantes maranhenses. O pior de tudo isso é que a direção partidária considerou que não poderia voltar atrás da aliança, pois esse gesto seria visto pelo conjunto do partido como uma desmoralização da “instância superior”. Na realidade, essa decisão antidemocrática representa mais um capítulo da velha política do fato consumado, posto que a direção partidária em momento algum fez a sua autocrítica, apresentando apenas uma caricatura desfocada da realidade do cotidiano do partido como resultado de uma obediência cega no interior do partido oriunda de seus chefes. É preciso ainda demarcar e denunciar as tentativas fraudulentas de confundir a realidade histórica com passagens descontextualizadas para justificar o injustificável para um partido que se diz “revolucionário”: uma aliança contra os trabalhadores.
A direção nacional do PSTU escondeu em suas gavetas burocráticas o processo de construção dessa aliança eleitoreira com os defensores do latifúndio e do agronegócio e, em nenhum momento, respeitou o “centralismo democrático” e o que é pior, jogou no lixo princípios determinantes do partido na medida em que insistiu por uma tática que acabou fragilizando a política do partido numa espécie de adaptação e capitulação à democracia burguesa. Acrescente-se aqui o descumprimento das decisões do último congresso do PSTU no que diz respeito às possibilidades de alianças eleitorais em 2012, deferidas apenas no arco correspondido aos seguintes partidos: PSOL e PCB, nunca o PC do B. Numa tentativa desesperada, eleitoreira e de negação da própria trajetória política, o PSTU consagrou essa aliança com o PCdoB e ainda proclama tal partido como sendo de esquerda, quando na verdade, o PC do B tornou-se apenas um partido escroque da burguesia e do grande capital.
Isto nos causa espanto. E diante disso perguntamos: a direção do partido estaria sofrendo de uma espécie de amnésia política?

Para “refrescar” a memória dos dirigentes do PSTU, é possível relembrar alguns atos do PC do B ao longo da história:
  • Numa articulação traiçoeira, utilizando métodos espúrios, tomou o SINDMETAL e promoveu a demissão dos dirigentes da época;
  • No primeiro governo de Roseana Sarney, no controle do ITERMA, expulsou os camponeses em favor dos grandes latifúndios e do agronegócio;
  • Dirigindo o SINPROESEMMA, sempre tomou postura contra os professores, em cumplicidade com os governos sarneistas;
  • No comando da UNE, dirigentes respondem a processo por desvio de verbas públicas de convênios com a entidade estudantil nacional;
  • Na relatoria sobre o código florestal, no CONGRESSO NACIONAL, defendeu os interesses do agronegócio em detrimento da preservação do meio-ambiente; e
  • É um dos principais protagonistas dos recorrentes escândalos de CORRUPÇÃO dos governos de Lula e Dilma.
Se a amnésia ainda permanecer, no período pós-eleitoral, a mesma direção partidária estará curada?

Neste episódio, o PSTU adotou uma atitude escorregadia no que se refere à responsabilização do PSOL pela aliança com o PC do B, quando, na verdade, trata-se de uma vacilação da direção partidária e falta de coragem em assumir suas próprias responsabilidades pela condução do partido. Não é de hoje que a criação do PSOL tem sido uma tensão política permanente para os planos do PSTU no âmago de sua inserção na seara eleitoreira neste pleito eleitoral de 2012, sem descartar novas incursões em pleitos futuros, mesmo se levarmos em conta o lero-lero de que a participação no processo eleitoral é benéfica na medida em que o partido denuncia a própria democracia burguesa, faz propaganda e capta novos militantes segundo o protótipo da aliança belenense e seus “futuros revolucionários, localizados no setor da construção civil em Belém onde o PSTU e o PC do B travam uma acirrada disputa pelo controle do aparelho do sindicato da categoria e etc. É bom lembrarmos que nesta aliança pragmática, tanto o PSOL quanto o PC do B utilizarão os recursos do grande capital para beneficiar eleitoralmente todos os membros dessa aliança, inclusive o candidato a vereador do PSTU.
A afobação eleitoreira do PSTU em obter uma vaga no parlamento municipal de Belém, a qualquer preço, tem a ver com as tentativas anteriores no campo eleitoral e, ao mesmo tempo, uma grande confusão entre o caráter constitutivo do partido como revolucionário e o partido institucional e eleitoralista, que vem se transformando, a exemplo da aliança avalizada pela direção nacional.

-Do CAC ao PSTU-

A aliança em Belém com o PC do B deve ser vista como um erro histórico. Este erro pode ser até compreensível para os fundadores do PSTU, mas, para os militantes do Coletivo Ação Comunista – CAC, que entraram no PSTU em 2011 a capitulação ao projeto eleitoral do PSOL e PC do B, evidencia o início de um processo de degeneração  do PSTU. Trata-se da permissão para praticar um ERRO recente e muito conhecido pela militância da esquerda combativa e revolucionária: tentar reverter por dentro, vide as experiências do PT, PC do B, PSOL e PCB.

A trajetória dos ex-integrantes do CAC deu-se no contexto da criação do PSOL em 2004, surgido do convergir de expulsões de parlamentares do PT que eram contra as iniciativas do governo Lula, maléficas à classe trabalhadora. Nesse período, a maioria da direção Estadual do Maranhão (independentes) conseguiu blindar o partido das atitudes eleitoreiras que a direção nacional passou a ratificar, a partir de 2008. Como exemplos: dinheiro da Gerdau para campanha da ex-deputada federal Luciana Genro (RS) e a entrada de pessoas não-alinhadas a um programa revolucionário e com venerações ao petismo. Entretanto, depois de o PSOL nacionalmente determinar suas táticas falseadas, os integrantes do CAC resolveram deixar o partido e, após meses de diálogos, ingressaram no PSTU, acreditando ter o ambiente adequado para a concretização de um verdadeiro projeto revolucionário. Após oito meses de coabitação, reivindicamos esse projeto revolucionário, mas não nos foi permitido.
-Do PSTU à luta social e à Revolução-

Nós, ex-integrantes do CAC, dissidentes do PSTU, formaremos um novo coletivo que vai atuar nos movimentos sociais (juventude, mulheres, homossexuais, idosos, etnias, etc.) e revolucionários, contribuindo com o pensamento crítico, formação e incondicional articulação das lutas da classe trabalhadora

Vamos ao debate, construir a história.
São Luis (MA), 17 de julho de 2012

Antonísio FurtadoProfessor da Rede Estadual e Municipal de São Luis. Liderança do Movimento de Resistência dos professores – MRP. Dirigente da Associação dos Profissionais da Educação do Maranhão – ASPEMA
Paulo RiosProfessor Universitário, pesquisador e servidor do TRT. Dirigente do Sintrajufe/MA
Rezzo JuniorProfessor da Rede Estadual.  Liderança do Movimento de Resistência dos Professores – MRP. Dirigente da Associação dos Profissionais da Educação do Maranhão – ASPEMA
Rogério CostaRadialista. Professor Universitário, pesquisador. Dirigente do Núcleo Artístico-Cultural da Cidade Operária – NACCO e Coordenação Nacional da Rede Musicom.

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